RETROSPECTIVA CULTURAL 2015 – PARAUAPEBAS
Por Ivan Oliveira
O ano está chegando ao fim e tá na hora de fazermos nossa retrospectiva cultural do que rolou em 2015 em Parauapebas, vamos nos ater aqui às ações independentes promovidas por artistas e produtores culturais da cidade.
O ano de 2015 foi marcado por uma crise econômica no país, Parauapebas também sofreu com a queda no valor da exportação do minério de ferro, que afetou diretamente a vida econômica da cidade, e quando os cortes vieram, advinha que foi o primeiro da lista? Sim, ela mesma, a cultura. Se já é difícil com o pouco incentivo ao fomento da produção cultural no município, quer seja pelo poder público ou pela iniciativa privada, imaginam quando o pouco ainda sofre cortes! Porém, é da natureza do povo brasileiro ser criativo diante das dificuldades, e contrariando as previsões, esse ano foi um dos mais produtivos para a cena cultural da cidade.
Vamos aos fatos:
MÚSICA
Sem dúvida esse foi o ano da música em Parauapebas, e a música alternativa foi a que mais se movimentou, tudo isso graças a uma série de fatores que colaboraram para que a cena se articulasse de uma maneira orgânica. As coisas foram acontecendo, os espaços surgiram para dar vazão aos músicos e bandas locais, assim como os eventos contribuíram para isso. Dois locais que destaco que abriram as portas para o fomento da cena musical do municipio, foram: a Casa Kriô com sua programação bem diversificada e, o Raul Rock Bar que recebe as bandas de rock da cidade. Os eventos do gênero também aconteceram e vieram para somar com a cena; o ano começou com o festival LabRock que veio com uma proposta inovadora incentivando o rock autoral da cidade, a ideia foi tão boa que tivemos uma segunda edição nesse mesmo ano, o LabRock 2 que realizou a primeira batalha de bandas de Parauapebas. Um total de 10 bandas se inscreveram com músicas autorais, fato inédito na cidade, sendo a banda Dioxana a vencedora da primeira batalha. Nessa efervescência toda, surgiu o coletivo Som de Garagem que organizou outros eventos de rock, além da Luau Produções sob o comando do músico e produtor Jairo Ueno e sua companheira Thays Leite que realizaram a segunda edição do Canta Raul que foi sucesso de público. O Reggae também marcou seu espaço na cidade, bandas como Santa Kaya trouxeram toda vibe da cultura rasta com eventos no anfiteatro movimentos e também com as pedras do DJ Daniel Lion Roots, além de outros parceiros que contribuíram com esta nova cena. A FAPRock também foi algo inusitado, pela primeira vez bandas de rock locais tiveram um dia só pra eles na feira de agronegócios da cidade, isso tudo graças a alguns produtores que citarei lá na frente. Mas o que mais destaco é o inicio do amadurecimento na produção musical, músicos e bandas lançaram seus EPs de forma independente, como foi o caso da banda Céus de Abril que teve seu EP lançado por um selo paulista e vem recebendo críticas muito positivas Brasil a fora, e já teve até sua música veiculada em rádios na europa. Outro que vem trilhando seu caminho é o rapper Diamante que lançou um álbum e recentemente um EP, e atualmente está filmando um documentário sobre sua música que está sendo produzido pela CasaLab para TV Cultura do estado do Pará, Willian Barros conhecido na cidade como grande músico e compositor, vencedor de diversos festivais, começou a divulgar mais seu trabalho pelas redes sociais com a gravação de videoclipes e em breve estará lançando seu EP intitulado O Monstro. Outra que também vem se destacando nas redes sociais fazendo seu dever de casa é a cantora Mayara Faria, a diva pop da cidade, e toda sua equipe da agência Dreams. E aqui também destaco algumas bandas da cidade como Legionários, que realizou mais um belíssimo tributo a Legião Urbana com a produção do competente Deicharles Produções, e bandas que vimos tocando como DPA, Sem Nome, Magnatas, Amazon Rude Boys com o eclético Beto Di Mayo, Rise Above, Midnigth Off Road e o retorno a nossa cidade do produtor e metaleiro Djair que com seus parceiros levaram a AntCorpus para outras fronteiras, além da terra do metal, e também tivemos o Vamberto recebendo o prêmio expressões artísticas 2015 via edital do estado do Pará . Toda essa movimentação em torno da música local se deve também em função da construção de um diálogo entre os produtores de eventos, que resolveram se auto ajudar, e assim pensaram na criação de um circuito para as bandas e formas de atuarem em parcerias, e um dos grandes fatores de tudo isso também foi o surgimento da CasaLab que veio pra pensar a cena de uma maneira mais profissional e criativa, e ainda tivemos o Playground Studio que trouxe um novo nível para gravação e produção musical da cidade, sob comando de Anderson Melo. E por último destaco os garotos do Yer Blues, guardem esse nome, vocês ainda vão ouvir falar muito deles.
TEATRO
Embora mais um ano termine e o tão esperado Festival de Teatro de Parauapebas mais uma vez não saia do papel, o que destaco tem um peso maior, que é a criação da ATP- Associação de Teatro de Parauapebas que nasceu e está formalmente constituída, saliento aqui um importante parceiro nesse processo, Rubens Moraes Jr, com seu suporte jurídico foi fundamental durante o processo, a associação atualmente segue com sua sede provisória na rua 5, que serve também como espaço de ensaio e reuniões dos seus associados, e vem mapeando os grupos e cias de teatro da cidade, a coordenação está sob a tutelada de Doddy Amancio e sua diretoria. Outro trabalho que precisa ser lembrado é o que vem sendo feito pelo arte-educador e ator Wanderley Lima, que esse ano fez um excelente trabalho com formação teatral, levando inclusive para Serra Pelada e Canaã dos Carajás, é um dos grandes arte-educadores de teatro do Pará. O Pocket Teatro da Kriô teve esse ano uma programação bem legal, o que me leva até a peça ISSO NÃO É SOBRE VOCÊ de Wanderson Costa, que foi elogiadíssima e emocionou muitas pessoas, com certeza a melhor peça de teatro do ano.
ARTES PLÁSTICAS
Toda honra e respeito ao mestre Afonso Camargo que este ano fundou com outras pessoas a Confraria de Artes de Parauapebas, e através disso, resgatou o saudoso Salão de Artes, que em sua segunda edição incluiu a moda, categoria essa que passou a ser considerada cultural através da economia criativa, o Salão de Artes premiou diversas categorias, que destaco melhor pintura, onde prêmio foi para jovem grafiteiro Thiago Tigo, que levou o conceito urbano dos seus trabalhos para o universo artístico das artes plásticas, e na categoria desenho, o premiado foi Sansão, que por sinal é baixista da banda AntCorpus, e flerta muito bem com outras artes, no caso o desenho. E o grafite também teve grande destaque com a trupe da Rale Crew que tem o já citado Thiago Tigo e Gilson Cinco, este último realizou uma vernissage com seus quadros feitos em muros numa exposição intitulada EXPO5 onde comemorava seus 15 anos de atividades no universo do grafite, a mesma foi realizada na CasaLab, a crew tem feito um trabalho que merece destaque, levando mais cores e arte para as ruas da nossa cidade. A volta de Souza Lobo também merece ser lembrada, figura icônica da cultura desta cidade.
CULTURA POPULAR
O Carimbó e a cultura popular fincou de vez seus pés por estas bandas, embora sempre tivemos essas manifestações em nossa cidade, 2015 foi ano em que a cultura popular mais ganhou força, isso tudo graças a dois grupos, que são, o GEC Retumbá e o Raízes Parauara, que saíram às ruas para levar o carimbó e outras expressões do universo popular da cultura paraense para o povo de Parauapebas, e já virou programa de domingo pela manhã a roda de Carimbó do GEC Retumbá e a noite, mais roda com grupo Raízes Parauara, ambos feitos com muito amor e propriedade pelos dois grupos.
FOTOGRAFIA E AUDIOVISUAL
Parauapebas é um celeiro de bons fotógrafos, são tantos e cada um na sua especificidade, mas destaco duas exposições de fotografia, CENAS DA CIDADE do Coletivo 2.8 dos fotógrafos Felipe Borges e Anderson Souza e a exposição ELAS – Faces de todas as faces de Biano Lima. A produção audiovisual ganhou mais uma produtora, a EVO Filmes de Valdivino Cordeiro, que esse ano produziu um documentário sobre a quadra junina, fazendo uma continuação do Gente Que Brilha, mostrando mais ainda a importância dessa manifestação para o cenário local, o filme foi exibido no 7º CurtaCarajás – Festival de Cinema de Parauapebas, aqui faço um parênteses, ( Valdivino teve sua base de formação audiovisual dentro das oficinas do CurtaCarajás em 2012 e no próprio Labirinto Cinema Clube, hoje tem sua própria produtora), quem também produziu um filme que foi exibido no festival foi Felipe Borges, que registrou a manifestação religiosa do Divino em Jacundá em contraponto à história de sua própria família.
E por falar em festival de cinema, contrariando todas as previsões negativas para sua não realização, o Labirinto Cinema Clube dessa vez levou o festival para praça das Casa Populares, além de ser um manifesto, essa atitude proporcionou o acesso à cultura através do cinema para aquela comunidade. Este ano também foi importante para produção de cinema local, Ivan Oliveira, esse que vos escreve, foi convidado para participar de um projeto da TV Cultura, intitulado Sonora Pará, que produzirá 12 filmes sobre música feita no estado, entre os 12 diretores escolhidos pela emissora, Ivan irá representar Parauapebas, e já está filmando com o rapper Diamante FK, e ano que vem teremos mais uma produção local circulando no estado. A CasaLab produziu uma série de conteúdos de mídia audiovisual como alguns clipes para músicos e bandas locais, esta em fase de finalização de um piloto para um programa.
DANÇA
A Arte Vida segue com suas apresentações de dança e teatro, fazendo isso de maneira muito profissional. A Parauabreak é um dos maiores eventos de breaking dance do estado, e tem como produtor, e agora instrutor de Zumba, o b. boy Marcos Play, todas edições do evento são sucesso de público. Volto aqui para os grupos de expressão popular que também atuam com a dança, como Raízes Parauara que participou do Festival Folclórico da Amizade, que este ano foi realizado no Marajó, e representou muito bem Parauapebas, e dessa forma acabou conseguindo articular para que a 20ª edição do festival aconteça ano que vem aqui na cidade.
ECONOMIA CRIATIVA ( essa merece atenção )
Empreendorismo cultural, este ano marca o inicio de um caminho que os produtores culturais deverão seguir para sobrevivência do fazer cultural. Ano passado, através do programa agir criativo houve uma capacitação para empreendedores culturais da cidade, no meio de todo esse processo, quatro projetos foram selecionados para uma incubação, mas isso é uma grande novela que não entraremos em detalhes; focaremos nos projetos que são a Kriô, Mulheres de Barro, Caldeirão da Cleide e a CasaLab, um dos empreendimentos que não foi selecionado pelo programa, mas segue firme, e talvez no melhor caminho, é o Playground Studio, isso tudo se deve ao seguinte fato: para empreender com a cultura é preciso, parar, rever os conceitos, planejar e executar. A Kriô tem resistido como espaço de fruição cultural na cidade, sendo um dos poucos lugares onde a cultura alternativa tem espaço, e com sua trupe tem buscado cada vez mais formação através dos intercâmbios que tem feito, buscando sempre meios para coexistir na cena, Mulheres de Barro é uma referencia no artesanato com fortes ligações com patrimônio arqueológico da região, e não tem como ressaltar essas guerreiras em nome de outra guerreira , chamada Sandra Santos, o Caldeirão da Cleide coloca de vez a gastronomia dentro do conceito cultural da cidade, o talento de mãe e filha na produção da culinária paraense e nordestina é de grandíssima qualidade, Cleide e Camila. Há de se destacar também o trabalho que o pessoal da Morada das Artes vem desenvolvendo com oficinas culturais para comunidade, mais um ponto de fruição cultural pra cidade. E por fim a CasaLab surge como um hub criativo para atuar com a comunicação da cultura e a produção cultural, pensando em estratégias para o desenvolvimentos de seus projetos e termina o ano com um saldo bem diversificado de ações, e está sempre se redescobrindo no universo da economia criativa da cultura. Nenhum projeto serve de modelo para outro projeto, porque cada um no seu universo tem suas especificidades, mas o caminho para empreender na área cultural, sem dúvida passa pela capacitação dos seus agentes, porque por mais criativos que sejamos, sem planejamento não conseguimos fazer funcionar a calculadora, e aí se torna insustentável economicamente, o que nos remete a eterna dependência do poder público.
E MUITO MAIS…
É claro, que muito mais coisas aconteceram, como o próprio festival junino, que sem dúvida é uma das grandes manifestações culturais dessa cidade, em termos de envolvimento popular. Assim como o próprio carnaval, com o barracão do samba, sob o comando da família Pinto que faz parte da história cultural dessa cidade, assim como Edmilson Barroso que buscou a capacitação do seu trabalho e foi para as escolas de samba do Rio de Janeiro trabalhar na área, experiência que com certeza ela trará para avenida em 2016. E tantos outros artistas que não foram citados aqui, mas estão na labuta diária produzindo com muito amor seus trabalhos artísticos. A grande maioria das ações aqui citadas me veem porque de alguma maneira tivemos algum envolvimento, seja direto ou indireto, as vezes como público, as vezes como parceiro, outras como realizador. E tudo isso que foi mencionado mostra o potencial cultural dessa cidade, que é inegável, que nos salta aos olhos, claro que alguns fingem não ver, e isso nem importaria se não fossem justamente as pessoas que mais precisariam saber o que temos de melhor, que não é o ferro, sim, nossa gente.
Um salve a todos nós que acreditamos que é possível a transformação de uma realidade através da arte e da cultura. Que dias melhores nos brindem no próximo ano, e que em 2016 nossas memórias sejam ativadas!
Feliz 2016 para todos!!
#SeguimosFortes #PorUmaVidaMenosOrdinária